Portadores de hanseníase são segregados no Brasil, diz relatora da ONU
A
relatora especial da Organização das Nações Unidas para a Eliminação da
Discriminação contra Pessoas Afetadas pela Hanseníase, Alice Cruz, afirmou hoje
(14), que, no Brasil, quem tem confirmado o diagnóstico da doença sofre uma
segregação "institucionalizada e interpessoal". Segundo a
especialista, ainda na atualidade, embora comunidades - mais frequentemente
denominadas colônias - continuem funcionando em quase todos os estados do país,
elas não operam dentro de um modelo capaz de mitigar a "indigência institucional"
à qual estão submetidos os hansenianos.
A
representante da ONU visitou, entre os dias 7 e 14 de maio, diversos pontos do
Rio de Janeiro e do Pará, como o Hospital Curupaiti, situado na zona oeste da
capital fluminense, para levantar informações sobre os direitos das pessoas
portadoras da hanseníase.
A
emissária da ONU destacou que o Brasil é um dos poucos países que instituíram
um marco legal antidiscriminatório e medidas de reparação a hansenianos. Ela
avalia que, mesmo com iniciativas pioneiras e uma queda na taxa de incidência
durante a última década, a doença permanece como uma "questão sumamente
importante", devido à relação que tem com disparidades sociais e
estruturais.
"Encontrei
uma situação administrativa muito complexa, porque as colônias estão
enquadradas na atenção à saúde, mas, na verdade, são espaços de residência.
Então, não basta ter uma estratégia de saúde, pois as pessoas precisam de água,
de luz. Isso impele a repensar a administração desses espaços", disse.
Brasil
Alice
Cruz ressaltou que o Brasil é um dos países que apresentam, em nível global, os
maiores índices de hanseníase. De acordo com o Ministério da Saúde, o país se
encontra entre os 22 no mundo que têm as mais elevadas cargas da doença.
De
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 200 mil novos casos da
doença são detectados em todo o mundo, a cada ano, sendo que Brasil, Índia e
Indonésia concentram 80% desse total. Ainda segundo a entidade, o Brasil
respondeu por 93% dos 29.101 casos detectados em 2017.
Outro
dado apontado por Alice Cruz é que a doença se faz mais presente nas regiões
Centro-Oeste, Norte e Nordeste, sobretudo na Amazônia Legal. O Maranhão,
salientou a emissária, foi o estado em que se descobriu, em 2017, a maioria dos
casos em crianças menores de 15 anos e que ficou em segundo lugar em números
absolutos, com 11,59% do total de casos registrados no país.
Alice
Cruz disse que durante seu trabalho de campo, foram relatadas situações que
evidenciam o preconceito vivido por pacientes com hanseníase e também o
aprofundamento da vulnerabilidade social e do estigma imposto a essas pessoas.
Ela disse que crianças chegaram a ser expulsas da escola, depois que
profissionais da instituição souberam que um dos pais era hanseniano.
"É
muito mais do que a doença, ela afeta todas as dimensões da vida de uma
pessoa", alertou.
A
relatora informou que agora reúne suas observações em um relatório e que a
previsão da divulgação do material é junho do ano que vem.
Hanseníase
A
hanseníase é uma doença crônica e que tem como agente etiológico o bacilo
Micobacterium leprae. A infecção por hanseníase pode acometer pessoas de ambos
os sexos e de qualquer idade. Porém, como salientou Alice Cruz, tem difícil
transmissão, já que é necessário um longo período de exposição à bactéria,
motivo pelo qual apenas uma pequena parcela da população infectada chega a
realmente adoecer.
A
doença é transmitida pelas vias áreas superiores (tosse ou espirro), por meio
do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente sem tratamento. A doença
apresenta longo período de incubação, ou seja, há um intervalo, em média, de 2
a 7 anos, até que sintomas se manifestem. De acordo com o Ministério da Saúde,
já houve, porém, casos atípicos, em que esse período foi mais curto - de 7
meses - ou mais longo - de 10 anos.
A
hanseníase provoca alterações na pele e nos nervos periféricos, podendo
ocasionar, em alguns casos, lesões neurais, o que gera níveis de incapacidade
física. Os estados do Maranhão e do Pará são os que concentram mais quadros do
grau 2 de incapacidade física, quando a análise se restringe a pacientes com
até 15 anos de idade, enquanto o Tocantins tem a maior taxa entre a população
geral, de todas as faixas etárias.
Via >---> Agência Brasil
Via >---> Agência Brasil


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