Novo Mais Médicos enfrentará teste para evitar evasão, diz professor da USP
A
estabilidade do plano de carreira e os altos salários oferecidos pelo
substituto do programa Mais Médicos, o Médicos pelo Brasil, podem assegurar a
fixação dos profissionais de saúde em regiões de difícil acesso e
vulnerabilidade social. A opinião é do professor da Faculdade de Medicina da
USP Mario Scheffer, que também é autor do mais completo estudo demográfico da
categoria. Para ele, o novo programa, anunciado ontem pelo presidente Jair
Bolsonaro, evita algumas "distorções".
O
programa, que planeja abrir 18 mil vagas, promete aos médicos um plano de
carreira em que eles podem receber até R$ 21 mil no primeiro ano de atuação com
a promessa de ganhos de até R$ 31 mil ao longo do tempo. Os valores são muito
superiores ao que era pago aos profissionais do Mais Médicos, que tinham bolsa
de R$ 11.800 e ajuda de custo.
"Como
agora há muitos novos médicos formados nas escolas privadas abertas nos últimos
anos, talvez eles tenham interesse em ocupar as vagas nos municípios em troca
dessas vantagens", afirmou Scheffer ao UOL.
Serão
quatro níveis salariais reajustados a cada três anos de participação no
programa. Além disso, os médicos receberão gratificação de 11% a 30% por
desempenho. "O primeiro nível pode chegar até R$ 21 mil e, gradativamente,
chegar a R$ 31 mil", afirma o Ministério da Saúde.
Para
o professor, Bolsonaro manteve "o principal componente, que é o
financiamento federal de médicos para atenção primária em municípios
desassistidos".
Os
critérios de elegibilidade de municípios parecem mais adequados. Eles podem
evitar distorções como o [programa] anterior, que alocava médicos na capital
paulista, cidade com mais de 60 mil médicos
Mário
Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP
Das
18 mil vagas a serem abertas, 13 mil ficam em locais "de difícil
provimento" --cerca de 7.000 vagas serão destinadas a regiões de
"maior vazio assistencial". A princípio, serão 4.823 municípios atendidos
no primeiro ano. O número de localidades irá mudar a cada ano, de acordo com a
demanda.
Para
escolher os municípios participantes, o ministério utilizará a classificação
dos espaços rurais e urbanos utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). Nas cidades intermediárias e urbanas, os médicos serão
distribuídos de acordo com o número de pessoas cadastradas em programas
sociais, como o Bolsa Família.
Scheffer
diz, no entanto, que, para garantir a fixação desses médicos, será preciso
"testar" se as "três novidades" serão de fatos atrativas,
como espera o governo: "Bolsa-formação de valor maior que a atual;
possibilidade de se tornar especialista sem cursar residência médica e a
possibilidade de entrar na carreira (contrato por CLT) após dois anos".
O
médico não se surpreendeu com a ausência de vagas para médicos cubanos. Eles
serão substituídos conforme forem acabando seus contratos. "Não [me
surpreendo], porque uma das marcas do atual programa é justamente a ausência de
cubanos."
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